quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ofício Juvenil

Cumprindo a aposta: em frente a lareira, televisão no mute, folhas de civil ao lado. Barulhos contínuos de água? Fui conferir. As torneiras estavam fechadas. Estranho.

Caminho: Rio Grande - Pelotas;
Hora: meio da tarde, sol entre as nuvens;
Carro: estacionado;
Vidro traseiro: aberto;
Alcance da visão: dois operários comendo salgadinhos e tomando coca-cola na frente de um supermercado, uma moça passeando com o sua cachorrinha para lá e para cá, um carro branco ao lado esquerdo, um caminhão atrás e outro na frente. Pequenos projetos de árvores com folhas secas e dois limoreiros com contáveis limões prontos para serem visgados ao lado direito...

Em um momento oportuno a moça com sua cachorrinha se aproxima:

"Jana! Vamos roubar os limões???" Pergunta sem obtenção de resposta no momento.

Em uma segunda olhada para os limoeiros, surge um senhor - estatura baixa, movimentos lentos, vestes grossas, chapéu e um cesto mediano em uma das mãos.
Observo.
Uma braçada, uma pegada, um limão jogado no cesto. Uma tirada de galho para o lado, duas pegadas, dois limões jogados no cesto. O senhor é atrevido, ele não se contenta com os limões mais fáceis de serem pegos. Ele quer o topo, ele ambiciona a dificuldade. Pega um tronco sacode insessantemente, torce para que dezenas de limões caíssem sobre sua cabeça. Sacode, sacode. Nenhum limão cai! Lastima o insucesso. Entretanto, não desiste. Persiste. Mudança de planos: se agarra no tronco cheio de escamas. Força um escalada. Temi seu tombo. O peso do corpo daquele nobre senhor estava propenso a ser puxado pela força da gravidade que tangia sobre aquela circunstância. Lembrei a infância, subir em árvores requer técnicas. Já preocupada, continuo observando - não negando que seria cômico se ele tombasse- aquele senhor conseguiu!
Uma braçada, uma pegada, um limão jogado no chão. Uma tirada de galho para o lado, duas pegadas, dois limões jogados no chão. A pontaria era falha, pois os limões não caim no cesto. Nada disso importava. O senhor estava nas alturas, os limões era bons. Com a dificuldade para alcança-los, não me espantaria se aqueles limões fossem doces. Mas, se amargo ou doce, isso não importava. Eram apenas limões. Ofício de um velho senhor, o qual ainda pratica as artemanhas juvenis.

Resposta dada a minha antiga pergunta: "Ainda bem que não roubamos os limões!"

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